A escolha da modalidade didática, por sua vez, vai depender
do conteúdo e dos objetivos selecionados, da classe a que se destina, do tempo
e dos recursos disponíveis, assim como dos valores e convicções do professor.
Às vezes o único recurso com que o professor de ciências
conta é com a saliva e giz. E ao aluno cabe ouvir, copiar e memorizar”. “Vez
por outra algum professor faz um curso de treinamento, outros, bem mais raros,
veem chegar à sua escola (às vezes descobrem) caixas de material ou kits
experimentais. Do treinamento, prático ou teórico, muito pouco é aplicável à
rotina diária da sala de aula; do material experimental, quando há tempo e,
sobretudo coragem para desencaixotá-lo, fica quase sempre o espanto: “Quanta
coisa”, “O que será isso?”, “Para que serve aquilo?” E tudo volta às caixas e
ao abandono (GASPAR, 1998. p. 4).
Não esquecendo dos recursos audiovisuais que enriquecem a
aula de uma maneira não somente ilustrativa, mas exemplificada, abordaremos
agora as modalidades didáticas além das aulas práticas, como aulas expositivas,
discussões, demonstrações, laboratórios virtuais, clubes de ciências e a
metodologia de projetos, sendo este último, o que desde os lançamento dos
Parâmetros Curriculares Nacionais, tornou-se parte do cotidiano do programa de
várias escolas públicas e particulares, o que poderá tornar-se objeto de
pesquisa em um próximo estudo. Abordaremos as aulas práticas mais adiante
discutindo seus aspectos positivos e negativos, como modalidade didática
discutindo-a enquanto suas necessidades especiais como materiais, procedimento
e discussões.
Aulas Expositivas
Uma das abordagens que discutiremos é em questão as aulas
expositivas que tidas como “tradicionais” por alguns educadores, ignoram-se
também suas valias enquanto técnica e modalidade de ensino.
Analisando as tendências pedagógicas presentes na educação
brasileira, verifica-se que a aula expositiva se contrapõe a uma variedade de
modernas técnicas de ensino. Assim sendo, seria válido questionar se essa
atividade ainda poderia ser considerada uma técnica de ensino capaz de produzir
uma aprendizagem duradoura por parte dos alunos. Seria também oportuno
questionar por que, a despeito de tantas falhas apontadas, a aula expositiva
nunca tenha sido relegada na prática pedagógica em nossas escolas (LOPES, 1991.
p. 35-36).
A exposição do conteúdo é necessária, pois, a partir dela
podermos partir para as outras metodologias e modalidades, porém cabem aqui
alguns alertas sobre sua exacerbada utilização:
A modalidade didática mais comum tem como função informar os
alunos. Em geral os professores repetem os livros didáticos, enquanto os alunos
ficam passivamente ouvindo. Em certos momentos de um curso: elas permitem ao
professor transmitir suas ideias, enfatizando os aspectos que considera
importantes, impregnando o ensino com entusiasmo que tem pela matéria.
Justamente a passividade dos alunos representa uma das grandes desvantagens das
aulas expositivas (KRASILCHIK, 1996. p.102-103).
A autora ainda no adverte que “Pesquisas indicam que dez
minutos está perto do limite superior de atenção que os alunos dão a uma
exposição” (KRASILCHIK, 1996. p. 103), o que nos remete a indicação que
trabalhar os cinquenta minutos somente com a exposição do conteúdo não é muito
eficiente quanto metodologia didática.
A questão não está em se rotular essa técnica como
tradicional e rejeitá-la como meio de ensino. Ocorre que professores com
atitudes tradicionais tornarão uma aula monótona e desinteressante, seja ela
expositiva ou não, enquanto que professores com atitude crítica mostram-se
capazes de levar seus alunos a reelaborar ou produzir conhecimentos por meio de
aulas expositivas (LOPES, 1991. p. 46).
Discussões
Etimologicamente discussão vem do latim discutere, que vem
de dis + quatere, significando sacudir, abalar, incomodar. E seu papel no
ensino é exatamente esse: dado um ponto de vista (uma teoria, um resultado de
investigação, uma exposição qualquer) submete-lo a um esmiúçamento tal que
sejam analisadas todas as implicações ali contidas (CASTANHO, 1991. p. 93).
As discussões são sempre cabíveis as ciências, pois temas
como clonagem e transgênicos assim como o aborto e a utilização de cobaias de
laboratório são altamente desenvolvidos em debates e discussões após uma
exposição curta do tema ou uma pesquisa bibliográfica mais aprofundada.
A transição entre um tipo de aula, em que só o professor
fala, para uma outra modalidade em que há diálogo, é um sensível progresso. Um
material para desenvolver a capacidade de conduzir discussões em classe, são os
Convites ao Raciocínio, que são unidades didáticas escritas na forma de
discussão, cujo objetivo é fazer o estudante participar intelectualmente de
atividades de investigação. A reação da classe é tão favorável que o professor
passa a substituir as exposições por discussões. Muitos professores não incluem
discussões em seus repertórios de atividades didáticas, principalmente por não
se sentirem seguros para fazê-lo (KRASILCHIK, 1996. p. 105).
Nem todos os materiais didáticos disponíveis apresentam os
Convites ao Raciocínio, porém, isso não serve de empecilho a um professor e uma
turma dispostos a uma pesquisa bibliográfica, um artigo de revistas
especializadas ou a um site de busca na internet.
Demonstrações
“Não deis a vosso aluno nenhuma espécie de lição verbal: só
da experiência ele deve receber” (ROUSSEAU, 1968. p. 78 apud ALMEIDA, 1990. p.
17). Um aspecto positivo das demonstrações é que este não necessita de ocorrer
em espaço laboratorial, então o mesmo pode ser utilizado em salas de aula com
um número elevado de alunos.
Nas demonstrações onde o professor executa o experimento, a
observação é possível para toda a classe ao mesmo tempo, onde a mesma é
modificada pela necessidade de economizar tempo e material. No caso, quando
todos veem o mesmo fenômeno simultaneamente, garante-se um ponto de vista comum
para uma discussão ou para uma aula expositiva (KRASILCHIK, 1996. p. 112).
É comum a ideia de que experimentos só são eficazes no
laboratório, com cada aluno manipulando material. Muitos deles, no entanto,
podem ser feitos na mesa do professor, por ele próprio ou por alunos, para
serem imediatamente discutidos por todos, com a vantagem de evitar a dispersão
que ocorre em aulas de laboratório. O experimento feito e discutido em aula é
melhor, pois é imediatamente aproveitado na discussão para produzir
aprendizagem genuína. É uma oportunidade para o aluno aprender a utilizar
métodos científicos e assimilar fatos e conceitos (FROTA-PESSOA, 2001. p. 10).
A questão do aprender é muito ampla, existem maneiras de
aprender que não consistem em apropriar-se de um saber, entendido como conteúdo
e pensamento, ao mesmo tempo em que se procura adquirir esse tipo de saber,
mantêm-se, também outras relações com o mundo (CHARLOT, 2000. p. 59).
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Ciências define-se
como experimento ou atividade experimental:
“...trabalho como uma
atividade em que o professor, acompanhado por um protocolo ou guia de
experimento, procede à demonstração de um fenômeno, nesse caso, o professor
realiza uma demonstração para sua classe, e a participação dos estudantes
reside em observar e acompanhar os resultados. Mesmo nas demonstrações, a
participação pode ser ampliada, desde de que o professor solicite que os
estudantes apresentem expectativas de resultados, expliquem aqueles obtidos e
os comparem aos esperados” (BRASIL, 1998. p. 122).
Laboratório Virtual
A tecnologia é uma ferramenta importante para nós
professores, pois com seu auxílio não negamos a relação
Ciência/Tecnologia/Sociedade, pois sendo esta mais uma possibilidade de
modalidade didática, abordaremos um exemplo dos vários, onde o computador e a internet
podem nos auxiliar no processo ensino aprendizagem do aluno.
O Laboratório Virtual apresenta animações e jogos
interativos produzidos pelo Núcleo de Criação da Estação Ciência, e tem como
objetivo divulgar a ciência de modo divertido na Internet. Os trabalhos vão
desde simples animações não interativas, passando por animações interativas,
simulações, até jogos. (...) Os trabalhos do Laboratório Virtual, Mapa Virtual
e outras animações, são produzidos com o programa Flash, da Macromedia. Para
visualizá-los é necessário que o plugin shockwave esteja instalado no micro do
usuário. Ele é gratuito e pode ser obtido na página eletrônica da Macromédia
(VIRTUAL, 2003).
A utilização dos laboratórios de informática, em escolas que
o possuem, pode ser explorado pelos professores de qualquer conteúdo, basta a
estes um pouco de afinidade e criatividade.
Clubes de Ciências
Os clubes de Ciências são um dos poucos espaços escolares
onde estudantes e professores sentem o prazer de aprender. Daí a existência de
tantos clubes do gênero, no Brasil e no exterior. O nascimento de um clube de
Ciências difere caso a caso.
Sua motivação costuma ser o desejo de extrapolar os limites
da sala de aula. A campainha toca, o assunto não se esgota, a curiosidade pede mais.
Vem o encontro fora da classe. Seguem-se reuniões espontâneas, uma puxando a
outra. Soma-se o interesse por um filme polêmico, um livro instigante, uma
feira de Ciências... Se a iniciativa não partir de sua turma, você pode dar uma
mãozinha usando recursos como murais e vídeos (FALZETA, 2003. p. 41).
É bom ficar atento também ao interesse demonstrado por
alguns alunos a partir de um trabalho feito em sala. Os mais curiosos podem ser
convidados para uma atividade extra-classe, na qual desenvolverão uma pesquisa
orientada por um ou por vários professores. Outra alternativa é passar um
questionário para obter informações sobre os assuntos de maior interesse. Por
exemplo: seres vivos, rochas, meio ambiente, etc.
Durante as décadas de 1960 e 1970, muitas escolas
brasileiras montaram clubes de ciências” (...) “O objetivo era formar pequenos
cientistas e a ênfase era o trabalho no laboratório” (...) “Hoje o que importa
é relacionar os conteúdos ao cotidiano dos estudantes e às outras áreas de
conhecimento (FALZETA, 2003. p. 41)
O local de funcionamento não importa tanto. Fundamental é
que o espaço seja conquistado pela competência dos participantes. Sem motivação
e produção, o melhor lugar ficará vazio. Quanto aos temas de pesquisa, o que
vale é despertar a observação da classe. Os membros do clube podem vasculhar o
pátio, experimentar na horta, no mangue, na praia, no céu. Então descobrem o
que poucos sabem que existe, deslumbrando-se com suas explicações sobre os
fenômenos observados.
Embora nem sempre assumidos pelo currículo de suas escolas e
sem legislação que os oficialize, os clubes de Ciências podem se fortalecer
pela comunicação constante. Corresponder-se com outros clubes, instituições de
pesquisa, centros de ciências e empresas passa a ser fundamental na formação de
parcerias que resultem no intercâmbio de informações (MANCUSO, 1998).
Lembramos que ao se organizar um evento fora do horário
escolar, deveremos estar atentos a disponibilidade dos alunos e professores,
bem como a comunicar os pais e responsáveis das reuniões do Clube assim como a
possível elaboração de um cronograma de encontros e eventos de mostras de
Ciências.
O Projeto
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Ciências definem:
...projeto é uma forma de trabalho em equipe que favorece a
articulação entre diferentes conteúdos da área de Ciências Naturais e desses
com os de outras áreas do conhecimento e temas transversais. Estudos de temas
polêmicos para a comunidade, que devem envolver gente de fora da comunidade
escolar, são preferencialmente trabalhados em projetos, para ampla avaliação e
participação (BRASIL, 1998. p. 116).
Nossas escolas, principalmente as públicas, utilizam-se da
metodologia de projetos de uma maneira não-sistemática em questão a
documentação e organização do mesmo, porém, constata-se que os projetos quando
trabalhados tendem a ser, em sua maioria, multidisciplinares, o que demonstra
cooperação por parte da maioria dos professores.
Um projeto é, na verdade, uma pesquisa ou uma investigação,
mas desenvolvida em profundidade sobre um tema ou um tópico que se acredita
interessante conhecer. Essa pesquisa ou investigação deve ser desenvolvida por
um grupo pequeno de alunos, algumas vezes pela classe inteira e em algumas
circunstâncias excepcionais pode ser desenvolvida apenas por um aluno como
também por mais de uma classe ou um grupo de alunos de diferentes classes
(ANTUNES, 2001. p. 15).
Já para Krasilchik, 1996. p. 146, projetos são atividades
executadas por um aluno ou por uma equipe para resolver um problema e que
resultam num relatório, num modelo, numa coleção de organismos, enfim, num
produto final concreto. O que fica muito amplo numa perspectiva metodológica.
Os objetivos de um projeto não se esgotam apenas em buscar
respostas concretas e abrangentes, mas principalmente em aprender de maneira
significativa o tópico estudado (ANTUNES, 2001. p. 16). Seus objetivos
educacionais mais importantes são o desenvolvimento da iniciativa, da
capacidade de decidir e da persistência na execução de uma tarefa (KRASILCHIK,
1996. p. 146). Usados para explorar conceitos e conteúdos, os projetos se
prestam também a programas de serviços comunitários, campanhas de
solidariedade, defesas de metas ecológicas, viagens da escola, experiências de
laboratório e uma infinidade de outras atividades extracurriculares (ANTUNES,
2001. p. 16).
A função do professor no projeto é orientar, auxiliar a
resolver dificuldades que forem surgindo no decorrer do trabalho e analisar as
conclusões, o que exige dele uma postura bem diversa das necessárias para a
condução de atividades mais diretivas. (...) O difícil é dosar a participação
garantindo que os jovens tenham independência sem ficar desorientados. Com frequência
são constatados casos de professores que pedem aos alunos que façam um projeto
para feira de ciências ou exposições escolares sem lhes dar maiores
explicações. Os estudantes, justamente, ficam sem saber o que fazer e são
incapazes de atender à ordem recebida (KRASILCHIK, 1996. p. 146).
Embora no trabalho com projetos os alunos continuam o
“centro” da aprendizagem, é destacada importância do papel exercido pelos
professores. A esses cabe colocar a disposição dos alunos livros, fotografias,
slides, revistas e outros materiais relacionados ao tema estudado (ANTUNES,
2001. p. 19).
É importante ainda ressaltar que todo projeto é desenhado
como uma sequência de etapas que conduzem ao produto desejado, todas elas
compartilhadas com os estudantes e seus representantes.
De modo geral, as etapas podem ser: a definição do tema; a
escolha do problema principal que será alvo de investigação; o estabelecimento
do conjunto de conteúdos necessários para que o estudante realize o tratamento
do problema colocado; o estabelecimento das intenções educativas, ou os
objetivos que se pretende alcançar no projeto; a seleção de atividades para
exploração e conclusão do tema; a precisão de modos de avaliação dos trabalhos
e do próprio projeto (BRASIL, 1998. p. 116).
ALMEIDA, Paulo Nunes de. Técnicas e Jogos Pedagógicos. 6ª
Edição. São Paulo: Loyola, 1990. 203 p.
ANTUNES, Celso. Um método para o ensino fundamental: o
projeto. Fascículo 7, Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. 45 p.
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares nacionais: Ciências Naturais. Brasília: MEC/SEF, 1998. 138 p.
CASTANHO, Maria Eugênia de Lima e Montes. Da Discussão e do
Debate nasce a Rebeldia. In: VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Org.) Técnicas de
Ensino: Por que não? Campinas: Papirus, 1991. p. 89-101.
CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma
teoria. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. 93 p.
FALZETA, Ricardo. O barato do clube de ciências. Disponível em <http://revistaescola.abril.com.br/ciencias/pratica-pedagogica/barato-clube-ciencias-425888.shtml> Acesso em 22 Fev 2003.
FROTA-PESSOA, Oswaldo. Os caminhos da vida: Biologia no
Ensino Médio – Manual do Professor. São Paulo: Scipione, 2001. 88 p.
GASPAR, Alberto. Experiências de Ciências para o 1º grau. 6ª
Edição. São Paulo: Ática, 1998. 232 p.
KRASILCHIK, Myriam, Prática de ensino de Biologia, 3ª
Edição, São Paulo: Harbra, 1996. 264 p.
LOPES, Antonia Osima. Aula Expositiva: Superando o
Tradicional. In: VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Org.) Técnicas de Ensino: Por
que não? Campinas: Papirus, 1991. p. 35-48.
MUSCOSO, Ronaldo. Eles só querem saber mais. Como montar um
clube de Ciências que atenda alunos da pré-escola à 8a série? Nova Escola. São
Paulo, abr. 1998.
VIRTUAL, Laboratório. Disponível em <http://www.eciencia.usp.br/laboratoriovirtual/default.html> Acesso em 22 Fev
2003.
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